Resenha: 24/7: Capitalismo tardio e os fins do sono
- Cristhian Rocha
- 6 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Sinopse da Editora:
“24/7 anuncia um tempo sem tempo, um tempo sem demarcação material ou identificável, um tempo sem sequência nem recorrência”, afirma o autor. A disponibilidade para consumir, trabalhar, compartilhar, responder, 24 horas por dia, 7 dias por semana, parece ser a palavra de ordem da contemporaneidade. Jonathan Crary faz um panorama vertiginoso de um mundo cuja lógica não se prende mais a limites de tempo e espaço. Uma sociedade que funciona sob uma ordem que põe à prova até mesmo a necessidade de repouso do ser humano – a última fronteira ainda não ultrapassada pela ação do mercado. No entanto, o capitalismo já se movimenta no sentido de se apoderar dessa esfera da vida: é o caso, por exemplo, das pesquisas científicas que buscam a fórmula para criar o “homem sem sono”. Embora o sono não possa ser completamente eliminado, pode ser profundamente atingido. Estudos sobre formas mais eficazes de tortura e sobre a criação de um estado de vigilância mais duradouro que eram inicialmente restritos ao campo das técnicas militares, hoje visam atingir também trabalhadores e consumidores. Passando por referências como Freud, Godard, Aristóteles, Arendt e inúmeras outras, o livro também ressalta a importância do universo onírico, ameaçado pelas visões atuais que “tratam o sonho como um mero ajuste autorregulatório da sobrecarga sensorial da vigília”. 24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono é uma interessante e perturbadora análise da realidade contemporânea.
Autor(a): Jonathan Crary
Editora: Ubu Editora; 1ª edição (1 outubro 2016)
Capa comum: 144 páginas Assunto: Político, Política e Ciências Sociais
Resenha:
Em seu livro "Capitalismo Tardio e os Fins do Sono", Jonathan Crary tece uma crítica perspicaz à sociedade contemporânea, explorando a relação entre o sono e a lógica do capital. Através de uma análise histórica e cultural, o autor argumenta que o capitalismo tardio, em sua busca incessante por produtividade e consumo, está paulatinamente erodindo a necessidade e a prática do sono.
Crary inicia sua obra traçando a evolução da cultura do sono desde a Idade Média até o presente. Ele demonstra como, ao longo dos séculos, o sono passou de ser visto como um estado natural e essencial para a saúde física e mental a ser considerado como um obstáculo à produtividade e ao acúmulo de capital.
O autor destaca o papel crucial da indústria farmacêutica na promoção de uma sociedade "24/7", onde o sono é cada vez mais visto como algo dispensável. Através da medicalização do sono e da venda de estimulantes e soníferos, a indústria cria um mercado lucrativo que contribui para o desgaste do sono natural.
Crary também examina a influência da tecnologia digital na cultura do sono. A constante conectividade e a proliferação de telas luminosas interferem nos ritmos circadianos e na qualidade do sono, privando as pessoas de um descanso reparador.
O livro é rico em exemplos e estudos de caso que ilustram os argumentos do autor. Crary analisa desde a cultura do trabalho até a publicidade, passando pela indústria do entretenimento, para demonstrar como a lógica do capital está colonizando o tempo do sono.
"Capitalismo Tardio e os Fins do Sono" é uma leitura essencial para quem busca compreender as raízes da sociedade do cansaço e as implicações da privação do sono para a saúde física e mental. A obra de Crary é um convite à reflexão sobre a necessidade de resgatar o valor do sono como um direito fundamental e um componente essencial para a vida humana.
Avaliação: 4/5 Estrelas
Sobre o autor:
Formado em história da arte pela Universidade de Columbia, onde é professor de arte moderna e teoria desde 1989, foi aluno de Edward Said, Meyer Schapiro, F. W. Dupee, entre outros. Tendo como principal objeto de estudo a formação da cultura visual contemporânea, colaborou extensivamente com os periódicos Artforum, October, Cahiers du Cinéma, Domus, Le Nouvel Observateur, Le Monde Diplomatique, além de inúmeros outros. Foi um dos criadores da Zone Books, editora fundada em 1985 e reconhecida internacionalmente por suas publicações nas áreas de história, teoria da arte, política, antropologia e filosofia, incluindo autores como Michel Foucault, Gilles Deleuze, Giorgio Agamben e Georges Bataille. Crary foi agraciado com as bolsas Guggenheim, Getty, Mellon e National Endowment for the Arts, é membro do Instituto de Estudo Avançado de Princeton e recebeu, em 2005, o Distinguished Columbia Faculty Award. Obras selecionadas: Técnicas do observador – Visão e modernidade no século XIX (Contraponto, 2012) Suspensões da percepção – Atenção, espetáculo e cultura moderna (Cosac Naify, 2013)
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